Meditação na Ação

Para nós, ocidentais, o verbo meditar sugere reflexão. Para os orientais significa também não refletir, não pensar, só ser. Neste texto adotaremos meditação como o não - pensar.

Meditar na ação é agir. Afastar qualquer pensamento que nos tire do momento presente, da ação, do aqui e do agora. Por isso meditar na ação é ao mesmo tempo a forma de meditação mais fácil e mais difícil.

Meditar na ação é fácil porque não precisamos de um momento ou um lugar especial. Não precisamos de rituais, roupas ou cânticos. Não precisamos de espaço. E é difícil porque não estamos habituados a viver assim, vivendo nossas ações tão intensamente que não haja espaço para pensamentos em nossa mente. Costumamos agir ignorando o momento presente, mergulhados no passado ou antevendo o futuro.

Geralmente dirigimos nosso carro pensando na vida. Revivemos discussões, nos deliciamos com os prazeres vividos ou adivinhados, planejamos nossa agenda de trabalho, listamos os argumentos que usaremos em seguida para convencermos alguém de que estamos certos, mal notamos a paisagem. Quantas vezes nos descobrimos no caminho errado só porque mecanicamente nos dirigimos a um endereço habitual, por exemplo. Fazendo trabalhos manuais, subindo escadas, andando nas calçadas, estamos mergulhados no tempo passado ou pressentido e deixamos de lado o único momento que realmente existe: o presente. Assim somos nós. Imaginamos tanto que deixamos de concretizar o que imaginamos.

Dizem no oriente que o verdadeiro mestre é aquele que vive o tempo todo na presencialidade. O passado passou, o futuro é incerto, já o presente é uma incursão na eternidade, pois ele nunca passa, ele é.

Pois façamos da prática da meditação na ação um objetivo constante!

Cada vez que se surpreender pensando em algo, volte para o que está fazendo. Ao lavar louça, sinta a textura da espuma, o relevo do prato, a temperatura da água, a sensação da esponja escorregando em suas mãos.

Se estiver ouvindo música, ouça. Nada mais. Não coma enquanto assistir a um filme, assista ao filme.

Durante uma aula ou palestra, não dialogue mentalmente com o expositor, não critique, não tente se recordar onde você já leu sobre esse assunto, você ainda não ouviu toda a palestra. Divida sua mente e nunca a ouvirá por inteiro.

Ao caminhar nas ruas, afaste seus pensamentos e observe como são as fachadas das casas e dos prédios, há gente nas calçadas? Flores ou folhas em algum jardim? Como estão os semblantes dos que passam por você? São jovens? Estão cansados ou parecem cheios de ânimo? Quando andamos pelas ruas vivendo o momento presente a vida ganha mais cor, mais cheiros, mais ritmos. O espaço se amplia. Só quem já viveu essa experiência, por alguns momentos que seja, compreende a diferença que faz.

Se perceber que sua presencialidade se esgota rapidamente e logo sua mente volta ao devaneio, importante: não se irrite! Afinal, é assim que seu cérebro funciona. Sempre dividido entre o agora e o antes, o depois, o mais lá na frente. Apenas desligue-se desses pensamentos errantes e volte à ação presente. Quantas vezes forem necessárias. E ao terminar o que está fazendo descobrirá que tem mais energia do que antes de começar.

Sou um guardador de rebanhos

O rebanho é os meus pensamentos

E os meus pensamentos são todos sensações.

Penso com os olhos e os ouvidos

E com as mãos e os pés

E com o nariz e a boca.

...

(Alberto Caeiro)

Se você quiser entender esse mistério: sair de uma atividade com mais energia do que começou, venha assistir uma palestra sobre meditação. Você verá que não há mistério nem misticismo. É neurofisiologia pura. A Natureza é sábia!